Os astrônomos que estudam estrelas próximas à Terra descobriram um planeta gigante, semelhante a Júpiter, circulando uma pequena estrela anã vermelha a 31 anos-luz de distância. A incomum combinação, apresentada em artigo na revista “Science“, amplia o conhecimento humano sobre como se formam os planetas.
Denominado GJ 3512 b, o exoplaneta tem pelo menos 46% da massa de Júpiter e é 150 vezes mais massivo que a Terra. Já a massa da sua estrela hospedeira, GJ 3512, equivale a 12% da do Sol, ou 126 vezes a massa de Júpiter.
Pela órbita feita pelo GJ 3512 b, o astrônomo espanhol Juan Carlos Morales, da Universidade Autônoma de Barcelona, e seus colegas escreveram na “Science” que suspeitam da existência de outro planeta de dimensões semelhantes no mesmo sistema – por enquanto, chamado de GJ 3512 c.
Em geral, as estrelas recebem 99,99% da massa de seus sistemas solares, e apenas 0,01% das sobras vai para seus planetas. “Aqui, é mais como uma parte em 300”, comentou Greg Laughlin, astrônomo da Universidade Yale (EUA) e autor de um comentário no artigo de Morales.
Laughlin acrescentou que os planetas gigantes que circundam pequenas estrelas são raros. “Esta não é a primeira exceção, mas [este] é o tipo de planeta que você normalmente esperaria encontrar em torno de estrelas do tipo do Sol”, afirmou.
Sem interferência
Segundo Morales e seus colegas, o caso do sistema GJ 3512 é difícil de explicar por modelos padrão de formação planetária. Nesses modelos, os planetas gigantes de gás primeiramente acumulam um núcleo sólido e depois varrem o gás do disco protoplanetário de sua estrela. O processo parece não funcionar bem em discos protoplanetários circulando estrelas tão pequenas quanto a GJ 3512.
Em vez disso, disseram os astrônomos, algum outro processo deve estar em ação, possivelmente envolvendo “instabilidades de disco” nas quais planetas como o GJ 3512 b podem se formar em partes isoladas de um disco frio e relativamente grande. Ali eles podem crescer livres de interferência da interação com outras partes do disco.
“Não foi assim que Júpiter foi formado, (…) mas [ele] fornece um mecanismo atraente para a formação de GJ 3512 b e seu possível companheiro”, escreveu Laughlin em seu comentário.
Laughlin chamou a atenção para outro aspecto da descoberta. Ela foi feita utilizando-se uma técnica denominada método de velocidade radial para estudar pequenas mudanças no movimento da estrela. Essas mudanças aparecem quando o GJ 3512 b completa sua órbita de 204 dias e puxa sua estrela inicialmente em uma direção e depois na outra. Isso faz o espectro da estrela mudar ligeiramente, tal como um apito de trem muda de tom quando o trem se aproxima e depois passa (o efeito Doppler).
Esse método era usado para buscar planetas extrassolares até o advento do Telescópio Espacial Kepler. O Kepler começou a descobrir planetas por atacado ao observar mudanças na luz de estrelas distantes enquanto seus planetas passavam entre elas e nós, na Terra.
Segundo Laughlin, a estratégia usada no caso do GJ 3512 b promete um ressurgimento do antigo método, apoiado no desenvolvimento de uma nova geração de instrumentos.
Reportagem: Redação Amazônia sem Fronteiras