O sistema de consórcio brasileiro acumula R$ 34,36 bilhões em créditos disponíveis para a aquisição de bens, mas que ainda não foram utilizados pelos consorciados contemplados. O dado, que tem o mês de abril como referência, foi divulgado pela Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) e se refere a 535 mil contratos aptos a utilizar os recursos, que também valem para a contratação de serviços.
As cartas imobiliárias respondem pela maior fatia desse montante e somam mais de R$ 16,08 bilhões em valores represados. São 103.489 cartas contempladas, cujo valor médio gira em torno de R$ 155 mil. Os veículos são os segundos da lista e registram um acúmulo de R$ 18,14 bilhões em valores disponíveis. O montante refere-se a mais de 400 mil contratos contemplados, com valor médio de R$ 44 mil.
Os fatores que levam os contemplados a não utilizarem o crédito são diversos e podem variar de acordo com o segmento. Um caso comum às modalidades está relacionado a uma possível dificuldade do consorciado em comprovar que terá condições de seguir pagando o consórcio após a aquisição do bem.
No momento da contemplação, o consorciado precisa comprovar uma situação cadastral positiva para que possa receber o bem. Esta é uma hipótese, a de que uma parcela destas pessoas não tenha condições de cadastro para poder resgatar a carta”, diz Pedro Leão Bispo, professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Esperar para comprar bem
Outros consorciados, por sua vez, podem estar aguardando uma melhor oportunidade de negócio, como baixa de preço ou oferta de desconto, para efetuar a compra do bem ou a contratação do serviço.
Há, ainda, os que podem ter dificuldade em complementar o valor da carta, caso ele não seja suficiente para adquirir o bem, ou cobrir custos eventuais decorrentes da aquisição dele, como lembra Jefferson Maciel, presidente regional da ABAC para o Paraná. “A compra de um imóvel, por exemplo, traz outras despesas como ITBI [Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis Inter-vivos], taxas de cartórios e registro [que precisam ser cobertas]”, ilustra Amilton Dalledone Filho, professor de finanças da FAE Business School.
A falta de necessidade imediata em relação ao imóvel, carro ou serviço contratado no consórcio ou a opção pela modalidade como investimento são outros pontos que podem pesar sobre a decisão dos contemplados de adiar a utilização dos recursos.
“Pela legislação do Banco Central, a partir do momento em que o cliente é contemplado, o dinheiro fica aplicado em fundos que não podem ter risco. São aplicações seguras e este rendimento fica para o consorciado”, acrescenta Maciel. Assim, em linhas gerais, o risco que o consorciado corre é o do bem que ele almeja comprar sofrer reajuste acima do rendimento de sua carta de crédito, como lembra Dalledone.
Dinheiro em “caixa” significa menos dinheiro na rua
O que para o consorciado pode ser um bom negócio, não significa o mesmo para a economia. Afinal, são R$ 34 bilhões em créditos disponíveis que poderiam estar em circulação, ao invés de aplicados no mercado financeiro, como destaca Bispo.
Ele ilustra a questão com o caso das montadoras, que costumam considerar em seu planejamento itens a serem entregues para os consórcios, o que não ocorre nestes casos. “No momento em que a montadora planejou produzir e vender dez [carros] e vende cinco, isso começa [impactar] a estrutura de forma negativa, como a possibilidade do [fechamento de vagas]”, exemplifica.
Outro ponto destacado por ele é a descaracterização do produto consórcio, que tem na aquisição do bem pelo contemplado sua finalidade.”
Reportagem: Redação Amazônia sem Fronteiras