Cartão vermelho para partidos tradicionais

Imagem: Divulgação
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Se os partidos políticos são importantes, então por quê uma boa parcela dos brasileiros não têm interesse em participar dessas organizações?
Um partido político é importante para o contexto social de uma nação, pelos seguintes motivos: (a) é uma ferramenta adequada para o cidadão exercer a cidadania e representar os interesses de uma parcela da população; (b) é uma boa fonte de recrutamento, seleção e desenvolvimento de bons candidatos para representar os interesses do coletivo; (c) é o espaço apropriado para criticar, debater e desenvolver programas/projetos para enfrentar problemas da cidade, Estado ou país.

Mas se um partido político tem papel relevante, então por quê uma boa parcela da população não sente vontade de participar dessa instância nem se sente representada por ela? Acredito que seja por conta das seguintes práticas tradicionais que envelheceram o atual sistema político:

1º) vários partidos se tornaram a propriedade de poucos

Em países mais desenvolvidos, a população valoriza o conteúdo programático e os projetos a serem alcançados pelos partidos. Em países menos desenvolvidos, predomina a figura do herói, do moralizador, da personificação do mandato, ou seja, o partido tende a se parecer com as características pessoais de um líder ou de uma líder, sem se importar muito com o conteúdo programático. Infelizmente no Brasil, temos registrado que vários partidos viraram propriedades de famílias de caciques personificados, gente que se perpetua na presidência e direção da sigla, impondo seu estilo de ser, não permitindo que a organização desenvolva novas lideranças, se oxigene, se renove. E quando esses “deuses do olimpo” são desmistificados pela Justiça, o tombo é feio, afugentando a adesão e criando ojeriza coletiva ao partido. Exemplos não faltam, nacionalmente temos: o clã Lula que apodreceu o PT, o clã Sarney que contaminou o MDB, o clã Roberto Jefferson que arrebentou o PTB, o clã Ciro Gomes lascando o PDT, etc. No Amazonas a situação não é diferente, a maioria dos caciques não sabe fazer outra coisa na vida a não ser dedicar-se única e exclusivamente em mandar e manipular seus partidos. Se tornam presidentes dessas siglas para em seguida se lançar governador, prefeito, senador ou em último caso deputado. São as mesmas caras ridículas, com as mesmas práticas, recheadas de tretas, botam para escanteio novas lideranças, enriquecem, fazem do partido a sua segunda casa, o seu patrimônio quase vitalício;

2º) a maioria dos partidos se tornou balcão de negócios

A essência da filosofia de um partido pode ser totalmente desconfigurada quando a sigla deixa de criar espaços para o cidadão exercer a cidadania, representar interesses legítimos de uma parcela da população, para permitir que “profissionais políticos” trabalhem nos bastidores, visando o enriquecimento, a manutenção do poder, seja por meio de negociação de cargos, seja pela prática de nepotismo ou pelo desenvolvimento de esquemas sofisticados para desviar recursos públicos. O mensalão e o caso Petrobras são exemplos concretos de como algumas siglas partidárias jogaram no lixo seus ideais para se entregarem de corpo e alma ao bancão de negócios com gente ruim das empreiteiras, bancos, escritórios de advogados, gráficas, etc;

3º) a maioria dos partidos não é transparente

A transparência é fundamental para que as pessoas acreditem em uma instituição. Quem deseja ser político e concorrer a um cargo público, deve ter em mente que a partir do momento em que assume essa árdua tarefa, sua vida de representante do povo precisa ser um livro aberto, cada centavo usado do poder público deve ser apresentado ao contribuinte, cada decisão tomada deve ser justificada ao contribuinte, a evolução patrimonial deve ser apresentada à sociedade.

O partido também precisa adotar postura exemplar, dando fácil acesso às informações da sua prestação de contas, mas esta não tem sido a prática. Para exemplificar, este ano o Movimento Transparência Partidária (http://www.transparenciapartidaria.org/) divulgou um relatório com balanço sobre o nível de transparência dos partidos no Brasil. Dos 35 partidos, o mais bem colocado no ranking obteve nota 2,5 em escala que vai de 0 a 10. São precárias as declarações de despesas e a identificação dos prestadores de serviços, etc.

A transparência também acontece quando o partido toma a atitude de punir exemplarmente dentro das normas da instituição, amparadas na lei, todo aquele que for pego cometendo atos criminosos. Infelizmente, temos visto nos partidos tradicionais, justamente o contrário, quando um membro da sigla é flagrado ou apontado pela Justiça como tendo cometido ato ilícito, o partido tende a blindar, proteger e negar qualquer ilicitude. A gente conta no dedo os casos raros no Brasil de punição exemplar de um filiado ou de representante, após ter sido pego praticando crimes. O mau exemplo não tem ideologias, vai do moribundo PT que defende a inocência do Lula, o rabugento MDB defendendo Temer e até o mestre do arquivamento de crimes, o PSDB na defesa do Aécio Neves.

Além dessas práticas tradicionais, temos partidos demais e eles devoram muito dinheiro do contribuinte. Segundo o TSE, no Brasil há 35 partidos, sendo que 28 têm assento nas 513 vagas da câmara dos deputados. Outra informação maluca é que 73 partidos estão em processo de formação. Para se ter ideia de como isso é surreal, vejamos o que acontece em outros países:

a) no Chile há 9 partidos que ocupam 120 cadeiras; nos EUA apenas 2 partidos que ocupam 434; na Rússia há 4 partidos que ocupam 450; no Reino Unido há 13 partidos que ocupam 649; e na França há 14 partidos que ocupam 577 cadeiras;

b) R$ 1,71 bilhão é o valor que o contribuinte desembolsará para o fundo eleitoral de 2018. Gostando ou não, o nosso dinheiro está indo para MDB (R$ 215 milhões), PT (R$ 199 milhões), PSDB (R$ 173 milhões), PP (R$ 142 milhões), etc. Se contarmos os recursos do fundo partidário (R$ 888,7 milhões) e o montante que o governo deixa de arrecadar por conta do horário gratuito eleitoral (R$ 1 bi), então desembolsaremos este ano perto de R$ 3,6 bi para os 35 partidos políticos. Além disso, há tratamento diferenciado entre partidos que cometem crimes e outras organizações. Em grande síntese, PT, PMDB e PP desviaram com as empreiteiras e doleiros perto de R$ 42 bi da Petrobras. E o que estamos vendo? Empreiteiras e doleiros estão sendo condenados e a devolver o dinheiro, enquanto que até o momento nenhum desses partidos devolveu um centavo ao erário. Esse é um de muitos casos que se espalham no Brasil. Então, se pagamos tão alto e não estamos vendo retorno, já não está na hora de darmos vários cartões vermelhos aos caciques e seus partidos tradicionais? a quem interessa que a população continue distante dessas siglas? Até que ponto apoiar gente que não presta, por conta do lucro, vale mais do que o bem-estar da população?

Artigo publicado no Jornal do Comércio do Amazonas em 19.07.2018

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva
Departamento de Engenharia de Produção
Faculdade de Tecnologia da UFAM
gomesjonas@bol.com.br 
Manaus-AM

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