Mais de 10 milhões de doses da vacina contra gripe sobraram nos postos de saúde do Brasil, no ano passado. Esse dado e outros que mostram o relaxamento da população com relação à imunização vêm preocupando as autoridades médicas e colocando em risco a saúde pública, com a possibilidade de retorno de doenças já erradicadas no país.
Dados de 2016 do Ministério da Saúde apontam, ainda, que a vacinação contra poliomielite, doença que causa a paralisia infantil, só alcançou 84,42% do público-alvo, quando o ideal é atingir 95%. Além disso, menos da metade das meninas de 9 a 14 anos receberam as duas doses recomendadas da vacina contra o HPV, vírus que causa, dentre outros, o câncer de colo de útero – doença com altos índices no país. A tríplice viral, que protege de doenças como sarampo, caxumba e rubéola, só chegou a 76% do público-alvo.
A diretora da Clínica Vacinar, médica Amanda Alecrim, acredita que as pessoas tenham se acomodado um pouco, em decorrência de períodos sucessivos de queda na ocorrência de doenças preveníveis. “A demanda por vacina geralmente aumenta quando há ameaça de surtos e epidemias. Em ocasiões assim, todos querem se proteger. Foi assim, por exemplo, com a febre amarela no Brasil”, afirmou.
Amanda alerta que as vacinas que necessitam de aplicação de mais de uma dose, como a do HPV, essa orientação deve ser seguida rigorosamente, para que as pessoas estejam realmente protegidas contra a doença. “Uma dose somente, nesse caso, não será suficiente para garantir a imunização”.
Ela ressalta, também, que a opção por não se vacinar é uma decisão que não atinge apenas uma pessoa, individualmente. “Ao não se proteger, o indivíduo fica vulnerável às doenças, com maior propensão a adquiri-las e, assim, transmitir para as pessoas do seu convívio. Quanto mais pessoas imunizadas, maiores as chances de uma proteção coletiva contra a doença”, frisou.
A médica diz que muita gente se apega a mitos, para se convencer de que as vacinas não são seguras. Há movimentos nesse sentido nos Estados Unidos e em países da Europa, que são fortemente contestados pela comunidade científica. Por conta desse comportamento reativo com relação à imunização, reforça a médica, em muitos países desenvolvidos doenças já erradicadas há tempos estão voltando, como a caxumba e o sarampo.
Os especialistas garantem que a vacinação é uma das medidas mais importantes de proteção contra doenças, considerada como um dos maiores avanços da saúde preventiva de todo o mundo, responsável por erradicar, por exemplo, a varíola, que no final da década de 70 matou 300 milhões de pessoas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a imunização evita cerca de dois milhões de mortes por ano, no mundo. “Por meio da vacinação, é possível evitar doenças graves como, por exemplo, a tuberculose, hepatite B e poliomielite (paralisia infantil)”, enumera a médica.
Estudos – A vacina estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos, que protegem contra os vírus e bactérias que provocam as doenças infecciosas. Amanda Alecrim explica que as vacinas, antes de serem liberadas, passam por uma série de estudos, que garantem a sua eficácia na prevenção às doenças. Ela destaca que o desenvolvimento de uma vacina segue critérios rígidos, incluindo pesquisas que, na maioria dos casos, podem levar décadas para serem concluídas.
A médica reforça que é importante tomar a vacina, mesmo que a doença já tenha sido eliminada do lugar onde a pessoa vive, porque há sempre o risco de retornar. Ele cita o exemplo da poliomielite, já erradicada no Brasil, e do sarampo. Mesmo que aqui não tenha mais essas doenças, os brasileiros viajam e têm contato com pessoas que moram ou passaram por áreas ainda endêmicas, por isso é necessário estarem protegidos.
Reportagem: Redação