Especial: Árbitra Iris Natália fala sobre movimento “Deixa ela trabalhar” no Amazonas

Foto: Divulgação
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Em pleno ano de 2019, ainda é grande a dificuldade das mulheres que escolhem ser
jornalistas esportivas. O assédio sexual corre solto nos estádios de todo o Brasil e as
mulheres também são alvo de outro tipo de violência: há muitos homens (entre
torcedores, jogadores, técnicos e colegas de trabalho) que não acreditam na competência
das jornalistas, simplesmente por serem mulheres. No Brasil, o movimento “Deixa ela
trabalhar” ganhou as redes sociais por iniciativa de 50 profissionais impactadas
diretamente. Por meio de um vídeo lançado, as jornalistas relembram agressões que
sofreram durante coberturas esportivas e fazem um apelo para que simplesmente
possam trabalhar em paz.

No Amazonas, o movimento “Deixa ela trabalhar” tem ganhado seu espaço de forma
bastante significativa, como relata a árbitra do quadro da Federação Amazonense de
Futebol (FAF), Íris Natália Mendonça Barros (foto), de 29 anos. Ela conta que o movimento luta pela igualdade de gêneros, dando um basta no machismo e no preconceito. “É um
movimento onde mulheres que trabalham no âmbito esportivo, sejam jornalistas,
repórteres, árbitras, jogadoras, etc. se uniram em prol do respeito como um todo para
que pudéssemos ser vistas como trabalhadoras, como profissionais da área e não
mulheres à disposição de serem assediadas”, contou.

Sem espaço e invisíveis

Formada em Educação Física e atualmente cursando Bacharelado em Direto, Íris já
acumula 11 anos de carreira profissional como árbitra, seis anos como integrante do
quadro regional da Federação Amazonense de Futebol de Salão (FAFS), três anos
atuando no quadro nacional da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) e 2
anos como árbitro assistente (bandeirinha) no quadro da Federação Amazonense de Futebol (FAF).

Ela relata que essa discriminação em relação ao segmento feminino no futebol está
relacionada às questões históricas, enraizadas não só na cultura brasileira, mas também
por todo mundo afora, portanto, mudar isso nunca será impossível, mas será uma tarefa
árdua e constante.

A árbitra disse ainda que o embarque no futebol feminino é um caminho sem volta, e
com o investimento de clubes renomados que proporcionam visibilidade ao seu elenco
feminino, fica impossível não notar a significância tanto para as jogadoras e treinadoras
quanto para as árbitras.

“Isso ultrapassa a ideia de apenas praticarem uma atividade esportiva, mas com chances
de se profissionalizar e obter uma ascensão social, se inspirando em grandes nomes
como Marta, Andressa Alves, entre outras. E porque não dizer a árbitra Deborah
Cecília, que já comandou um no Futebol clássico masculino na ilha do retiro entre Sport
e Santa Cruz”, pontuou.

Discriminação

Muitas mulheres já foram assediadas nas redações, nos estádios e sofrem violência até
mesmo nas redes sociais. A profissional conta que em geral o público amazonense
sempre agiu com respeito para com o seu trabalho, tanto os times masculinos quanto
femininos, em campeonatos de bairro ou federados, mas, relembra um episódio não tão
agradável quanto de costume.

“Houve uma vez, em que eu estava como assistente no campo, e uma mulher gritou em
minha direção após marcar um lance contra o time que ela torcia, para que eu fosse para
casa cozinhar. Isso me deixou muito pensativa por uma mulher descriminar outra
mulher por está trabalhando no campo. Teria sido cômico se não tivesse sido trágico”,
ironizou.

Íris Natália que é uma das integrantes da campanha na cidade de Manaus, diz que só é
possível avançar e trilhar com sucesso na evolução do Futebol, se todos os envolvidos
nessa jornada, o façam por respeito e amor: “Desejo que tanto o futsal quanto o futebol
sejam mais justos, tenha mais respeito e seja mais leal em campo com aqueles que
fazem o jogo acontecer (árbitros, jogadores e torcida), tirando a ideia de levar vantagem
para si, e também em sua administração, com uma ideia mais honesta e voltada para o
crescimento do esporte. Estamos para conduzir o espetáculo!”, finalizou.

O movimento atualmente une em torno de mais de 50 mulheres no Amazonas, são
jornalistas e árbitras que trabalham com o esporte e com o objetivo de combater
episódios lamentáveis dentro de estádios, redações e entre colegas de profissão, e pedir
algo simples: respeito.

Reportagem: Marcos Bargas (Amazônia sem Fronteiras)

 

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