Após protestos, Macron admite mudanças em sua proposta de reforma da Previdência

    O presidente da França, Emmanuel Macron, sugeriu nesta quarta-feira (18) que poderia fazer alguma concessão em seu projeto de reforma previdenciária durante as negociações com os sindicatos, após duas semanas de greve dos transportes e mobilização nas ruas que ameaçam prejudicar as festas de fim de ano.

    Macron “não abandonará o projeto, mas está pronto para melhorá-lo, através de discussões com os sindicatos”, explicou a Presidência, sugerindo “avanços até o final da semana”.

    Hoje, o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, recebeu os líderes dos sindicatos dos trabalhadores e patronais para tentar encontrar uma saída da crise que coloca o governo contra o muro, preocupando os comerciantes e gerando problemas à população.

    É urgente encontrar uma solução a três dias das celebrações natalinas, durante as quais milhares de pessoas podem ficar sem trens para passar as festas com a família.

    Macron, que não teve sua popularidade prejudicada por esse protesto, quer “uma trégua” na mobilização social “durante o feriado” no final do ano, segundo fontes do governo.

    Depois de se reunir com o primeiro-ministro, o líder do sindicato da CGT, Philippe Martinez, que lidera os protestos, reiterou, porém, que eles não têm intenção de fazer uma “trégua” de Natal, se o governo não recuar e retirar seu projeto de reforma da Previdência.

    Possibilidade de concessões
    Segundo fontes próximas a Macron, o Executivo poderia fazer concessões em um dos pontos mais controversos de sua reforma: a chamada “idade do equilíbrio”, ou idade oficial da aposentadoria, que a reforma estabelece aos 64 anos, a partir de 2027, comparado aos 62 atuais.

    Os trabalhadores que se aposentarem antes dessa idade teriam direito a uma pensão menor, enquanto aqueles que saírem mais tarde receberão um remuneração mais alta. Essa ideia foi rejeitada em bloco pelos sindicatos, especialmente o CFDT. Até recentemente principal aliado do governo, este último considera que o governo ultrapassou uma perigosa “linha vermelha”.

    Philippe fará todo o possível para recuperar seu aliado, com a ajuda de Laurent Pietraszewski, o novo chefe do governo para essa reforma previdenciária.

    Ao deixar Matignon, sede do governo, o líder do CFDT, Laurent Berger, disse à imprensa, contudo, que eles estão “muito, muito longe de um acordo”.

    Na quinta-feira, Edouard Philippe recebe os líderes da RATP (transporte parisiense) e da SNCF (trens).

    O tempo está acabando. Locomover-se continuava a ser um desafio nesta quarta-feira, especialmente na região de Paris. Oito linhas de metrô permanecem fechadas, e apenas um em cada três ou quatro trens circula pelo país.

    Se a maioria dos franceses apoia o movimento, segundo pesquisas, muitos usuários do transporte público expressaram seu cansaço.

    “Desde o primeiro dia da greve, em 5 de dezembro, saio às 4h para evitar engarrafamentos e à noite chego em casa por volta das 21h30. Começo a ficar cansado”, disse François à AFP.

    Diante da supressão da maioria dos trens de sua linha, esse professor que mora em Marselha (sudeste) tem ido de carro para o trabalho em Nîmes, a 120 quilômetros de distância.

    O dia de mobilização de terça-feira foi “um sucesso retumbante”, estimou Philippe Martinez, líder do sindicato CGT, à frente da contestação. Segundo as autoridades, os manifestantes somaram 615.000 em todo país, e 1,8 milhão, de acordo com o CGT.

    A Previdência é um assunto sensível na França, onde a população conta com um sistema de Bem-Estar Social considerado um dos mais protetores do mundo.

    Os críticos do projeto apostam na impopularidade relativa do presidente Macron para saírem vitoriosos do conflito e em um contexto social tenso, com a mobilização há mais de um ano dos “coletes amarelos”, mas também com o descontentamento na saúde pública, educação, polícia e agricultores.

    Reportagem: Redação Amazônia sem Fronteiras

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