O medo da ditadura pode não ter afastado os concorrentes ao título,mas só seria totalmente eliminado em abril de 1978, quando o Movimento Peronista, um grupo guerrilheiro em atividade na Argentina, propôs uma trégua durante a Copa do Mundo. Até então, a soma dos ataques e contra-ataques na “guerra suja” contabilizava 20 mil mortos e 15 mil desaparecidos. Todos os líderes do movimento ordenaram ao restante do “exército” a não se embrenhar em nenhuma operaçãoque viesse a pôr em risco a integridade física de jogadores, dirigentes e torcedores.
A Argentina vivia duas situações muito distintas em 1978: o medo e a repressão de uma cruel ditadura militar e o êxtase por sediar uma Copa do Mundo, a qual venceria de maneira polêmica. Os olhos do mundo estavam voltados para o país e os militares viam o Mundial de 78 como uma oportunidade de recrear a população, fazendo-a se esquecer, nem que por alguns dias, das atrocidades que vinham sendo realizadas pela junta composta por Emilio Eduardo Massera, Orlando Ramón Agosti e Jorge Rafael Videla, considerado o presidente de facto.
O país foi escolhido sede da XI Copa de Mundo em 1966, dez anos antes do golpe civil-militar, durante o 35º Congresso da FIFA em Londres. O outro país candidato era o México, que renunciou após ser confirmado em 1964 como sede da Copa de 1970. Na época da escolha, a Argentina vivia, há poucos dias, sob a ditadura autodenominada Revolução Argentina, então liderada pelo General Juan Carlos Onganía (1966-1970).
Para a Copa de 1978, foi decidido a construção de três novos estádios e a restauração de outros três. As sedes do evento eram Buenos Aires (com dois estádios, o Monumental de Nuñez, do Clube Atlético River Plate, e o José Amalfitani, do Clube Atlético Vélez Sarsfield, ambos restaurados com financiamento governamental); Córdoba (o Estádio Olímpico de Córdoba foi construído para o evento); Mar del Plata (o Estádio Mundialista foi construído para a ocasião); Rosário (o Gigante de Arroyito, estádio do Rosário Central); e Mendoza (onde foi construído o Estádio Ciudad de Mendoza). De acordo com o calendário, a seleção local viajaria apenas entre as províncias de Buenos Aires e Santa Fé (onde fica a cidade de Rosário), o que foi considerado por alguns competidores um favorecimento, já que outras seleções faziam longas viagens entre as distintas sedes.
O Brasil viajou para a Argentina com uma equipe cheia de craques – do goleiro Leão – um dos melhores do mundo – ao craque Zico e ao artilheiro Roberto Dinamite. No entanto, a seleção estava prejudicada por diversas contusões e pela falta de conjunto.
Na primeira fase, estreou com um 1 a 1 diante da Suécia (gol de Reinaldo), ficou no 0 a 0 com a Espanha e, precisando derrotar a Áustria para se classificar, venceu apenas por 1 a 0.
Na fase semifinal, o desempenho brasileiro melhorou sensivelmente. Já era outro time contra o Peru, jogo que venceu por 3 a 0, com gols de Zico e Dirceu (dois). O confronto seguinte foi o mais difícil do Brasil na Copa, contra a arquirrival Argentina. Disputada e violenta, a partida ficou no 0 a 0.
Na última rodada da semifinal, contra a Polônia, o time fez mais uma boa apresentação. Nelinho abriu o placar para os brasileiros, mas Lato, artilheiro da Copa anterior, empatou. Na etapa final, Roberto Dinamite marcou duas vezes e garantiu a vitória por 3 a 1.
Apesar dos bons resultados, o Brasil não se classificou para a decisão. A Argentina fez 6 a 0 no Peru (em jogo que ficou sob a suspeita de ter sido “arranjado”) e ficou com a vaga graças ao saldo de gols. O time do técnico Cláudio Coutinho venceu a Itália por 2 a 1, sendo o “Campeão Moral”, conquistando o terceiro lugar da competição. A Argentina venceu a Holanda por 3 a 1, vencendo a Copa do Mundo de 1978.
Reportagem: Willian D’Ângelo