Este ano elegeremos presidente/vice-presidente da República, governador/vice-governador, senador, deputado federal/estadual, então fique atento (a), pois começou o teatro eleitoral.
As primeiras encenações começam com as pesquisas eleitorais, fiquemos espertos, pois nos últimos anos a PF tem identificado evidências de envolvimento fraudulento entre alguns institutos de pesquisas com empresas, partidos e políticos. Para exemplificar, citarei dois casos.
O primeiro caso é o do Instituto de Pesquisa Vox Populi, alvo da 6a etapa da Operação Acrônimo, em que agentes cumpriram mandados de busca e apreensão em escritórios da construtora JHSF e em escritórios deste instituto em SP e em MG. Esta operação investiga esquemas ilegais que beneficiou a campanha eleitoral de Fernando Pimentel (PT) em 2014, quando ele se elegeu governador. Nesta fase, a PF apurou a suspeita de que o petista e o operador do esquema, o empresário Benedito de O. Neto, teriam intermediado empréstimo do BNDES para a JHSF. Em contrapartida, a construtora teria pago caixa dois de campanha, simulando um contrato com este instituto.
Outro caso divulgando nacionalmente veio da delação do diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, o qual entregou ao MPF, contratos e notas fiscais que teriam sido utilizadas para dissimular propinas à cúpula do PMDB. Entre os documentos fictícios estão números de notas fiscais emitidas pela JBS ao IBOPE. Segundo Ricardo Saud, o IBOPE recebia propinas da JBS, nunca prestou serviços para a empresa, mas para caciques do PMBD, como Henrique Alves e Renan Calheiros, neste último, as propinas foram usadas para preparar a eleição dele à presidência do Senado, bem como para a campanha do filho dele ao governo de Alagoas. Os valores repassados ao Renan equivalem R$ 9,9 milhões de reais, parte dele justificada por meio de pagamentos ao IBOPE.
O leitor pode acessar o depoimento de Ricardo Saud neste link <https://www.youtube.com/watch?time_continue=5&v=n_hRaar7nK4> no qual cita até senador do Amazonas. As cópias dos documentos entregues pelo delator podem ser acessadas pelo link <https://politica.estadao.com.br/…/contratos-com-o-ibope-di…/>.
E aqui no Amazonas, já testemunhamos diversas pesquisas publicadas antes e durante a eleição que se mostraram totalmente fora da realidade após o resultado final do pleito.
Diante desses fatos, fica fácil imaginarmos o teatro eleitoral envolvendo institutos de pesquisas, grandes empresas, partidos e políticos, podem torrar muito dinheiro para fazer os institutos influenciarem o voto da população. Assim, a população precisa ficar atenta, não se deixar influenciar por pesquisas eleitorais, mas acompanhar e usar critérios confiáveis para escolher seu candidato.
Além do teatro eleitoral que pode acontecer com uso de alguns institutos de pesquisas, há outra forma bem antiga e sutil de ludibriar a população: inaugurar pacotes de obras ou lançar ações em pleno ano de eleição, vejamos alguns casos locais.
De olho nas eleições de 2018, o Governador do Amazonas está divulgando pacotes para Manaus e parte do interior do estado. Ora, historicamente o nosso interior vive abandonado na maioria do tempo de gestão de nossos governadores, ai basta chegar perto do ano eleitoral que o teatro começa, com a ida do governador e seus secretários aos municípios com interesse em aumentar os votos. Do nada, os interioranos se espantam com a chegada da imprensa, de alguns tratores, asfalto de má qualidade, ambulância, distribuição de equipamentos, etc. Passado o período de eleição o interiorano volta a conviver com a falta de escolas, com a infraestrutura precária, com vias esburacadas que impedem o escoamento dos produtos, etc. Em síntese, depois do pleito, o palco é desmontado, os atores somem junto com todo o glamour apresentado nos comerciais de TV. Está para nascer no Amazonas um(a) governador(a) com um time de notáveis que logo no primeiro dia de governo convida os representantes do interior para elaborar um planejamento estratégico de desenvolvimento para os próximos 20 anos.
Bem, de olho nas eleições, os candidatos e/ou gestores da PMM também são oportunistas. Poderia discorrer sobre vários casos de encenações, mas vou focar na educação infantil.
Vale lembrar que candidato e ator Serafim prometeu 24 creches, somente fez uma, mas pior foi o candidato Amazonino, na encenação eleitoral, ele mereceria ganhar o Oscar da “abacaba grande”, para ganhar do Serafim, em campanha prometeu construir 1000 creches solidárias, onde as mães de baixa renda seriam treinadas para cuidar das crianças do bairro, sabe o que aconteceu depois que foi eleito? Nada! ele não entregou nenhuma, para lascar, ainda assinou documentos milionários que deixaram o município altamente endividado, como é o caso das obras da Copa das Copas. Depois o diplomata Arthur subiu no palco das eleições de 2012, prometeu uma tal de cidade inteligente, nela construiria 110 creches, mas passados 6 anos ainda não entregou nem 7% delas. E não foi por falta de dinheiro, pois entre jan/12 e dez/17 o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) repassou ao município cerca de R$ 27.490.199,46 o que seria suficiente para construir 19 creches, das quais, 17 delas poderiam ter sido entregues até o final de 2017.
O oportunismo é tanto que a PMM tem esperado ano de eleição para inaugurar as creches, como foi o caso da creche Municipal Professora Luzenir Farias Lopes, na R. Rio Amazonas, Bairro São Sebastião/São Francisco, concluída em out/15, mas inaugurada no dia 07/10/16, em plena eleição de 2016 quando o prefeito disputava o 2o mandato. Este ano não está sendo diferente, pois no dia 11/04/18 inauguraram a creche Municipal Maria do Perpétuo S. Trindade no Conjunto Águas do Amazonas (R. Raimundo Salgado), o detalhe é que a obra foi concluída em out/17. Com esta creche, a PMM entrega apenas 7 (6,3% das 110 prometidas) empreendimentos construídos com recursos do FNDE e do município, mas no comercial eles estão divulgando 16 creches. Vale lembrar que ainda há obras de creches espalhadas no Zumbi, Tarumã e Cidade de Deus, cuja alocação de recursos vem desde o tempo do Amazonino, elas estão com fortes sinais de superfaturamentos e outras irregularidades, bem debaixo dos olhos da CMM e do MP-AM, MPF-AM e TCE-AM.
Diante do exposto, precisamos duvidar das pesquisas eleitorais e dessas obras lançadas em pleno ano eleitoral. Por outro lado, se há alguma encenação teatral que vale a pena ver, é o Festival de Parintins, pois o povo de lá é muito criativo e brilhante na arte de encantar o mundo com nossas lendas e riquezas naturais.
Artigo publicado no Jornal do Comércio do Amazonas em 04.07.2018
Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva
Departamento de Engenharia de Produção
Faculdade de Tecnologia da UFAM
gomesjonas@bol.com.br
Manaus-AM