Amadores e profissionais na Copa de 1934

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De volta para casa, depois da Copa de 1930, a seleção não tardou a reaparecer em campo. No dia 1º de agosto, apenas dois dias após a final entre Uruguai e Argentina, o Brasil recebeu a França, no estádio das Laranjeiras, na época um dos maiores do país, com 15 mil lugares. O jogo, na verdade, era para ser um amistoso do Fluminense com a seleção francesa – que, a exemplo do Brasil, também foi eliminada na primeira fase do Mundial.

Só que o vice-presidente do clube carioca, Mário Pollo, chamou atletas do futebol paulista para participar. E ainda conseguiu que a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) emprestasse o uniforme da seleção. Com apenas quatro remanescentes da Copa – o goleiro Velloso, o centromédio Fausto e os atacantes Nilo e Theóphilo – a equipe venceu por 3 a 2, com dois gols de Heitor (do Palestra Itália, hoje Palmeiras) e um de Friedenreich (do São Paulo da Floresta). No Mundial, ninguém havia conseguido fazer mais de um gol nos franceses. Nem mesmo a Argentina, vice-campeã  e dona do melhor ataque da competição.

Em preparação para a Copa do Mundo de 1934, a CBD se viu obrigada a contratar jogadores para a competição. Os grandes clubes argentinos (Boca Juniors, River Plate e San Lorenzo) também haviam aderido ao profissionalismo e formaram uma associação fora da tutela da Fifa.

No ano de 1932, o Brasil atravessou a Revolução Constitucionalista, o último grande movimento armado na história nacional. O estado de São Paulo tentou varrer o governo provisório de Getúlio Vargas – que havia tomado o poder dois anos antes, através de uma revolução que derrubou o então presidente Washington Luiz – e promulgar uma nova constituição para o Brasil. Os paulistas iniciaram o conflito  no dia 9 de julho e, derrotados, anunciaram a rendição em 2 de outubro. Oficialmente, o saldo é de 934 mortos, mas estimam-se que mais de  2 mil tenham sumido.

A revolução trouxe consequências também para o futebol. O atacante Friedenreich, por exemplo, participou dos conflitos com fuzil em punho. O campeonato paulista foi paralisado. Após os combates, os clubes ainda viviam traumas de guerra e não cederam jogadores a seleção.

Em 1933, o futebol brasileiro preparava-se para sofrer uma mudança radical. Até esse momento, o esporte era ainda amador e, a partir dele, o profissionalismo é oficializado – primeiramente no Rio de Janeiro e São Paulo, para depois atingir os outros Estados. Entre 1933 e 1938, perdurou a discussão se o amadorismo deveria ser resgatado ou se o profissionalismo seria mesmo necessário e inevitável. Havia defensores de ambos os lados. Oficialmente prevalece o profissionalismo no esporte, o que iria tirar o futebol brasileiro de um âmbito regionalista para começar a projetá-lo internacionalmente. Entretanto, podemos dizer que o nosso profissionalismo não obedeceu bem aos padrões internacionais. Na verdade, o que prevaleceu foi uma espécie de profissionalismo amador, já que a maioria das medidas adotadas até hoje em grandes clubes e associações foge ao verdadeiro significado da palavra. Talvez seja isso que marque o futebol brasileiro e o torne diferente dos demais países. A meta inicial era, com isso, um ponto final no “amadorismo marrom” predominante em praticamente todo o país.

Carlito Rocha, dirigente do Botafogo-RJ, era profundo conhecedor de futebol e ficou responsável em montar a seleção de 1934. Experiente, sabia que iria necessitar de uma equipe forte para a disputa do torneio. O primeiro passo foi acertar com o técnico Luis Vinhais, vencedor de duas edições da Copa Rio Branco. Em seguida, partiu em busca dos profissionais. Na capital paulista, contratou quatro jogadores da equipe do São Paulo. Após uma partida contra a Portuguesa de Desportos, Sylvio Hoffmann, Luizinho, Waldemar de Britto e Armandinho embarcaram às escondidas para o Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, acertou com Luiz Luz e Patesko. No Rio de Janeiro, o único clube prejudicado foi o Vasco da Gama, pois perdeu Tinoco e Leônidas da Silva.

Reportagem: Willian D’Ângelo

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