Cinco pessoas ligadas ao tráfico de drogas internacional e lavagem de dinheiro, em Manaus, foram presas na manhã desta terça-feira (25), durante a operação “Collusione” – deflagrada pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM).
Ao todo, 21 mandados de prisão, busca e apreensão foram cumpridos em 26 locais da capital. A ação ainda resultou na apreensão de R$ 5 mil e veículos.
A operação envolveu mais de 100 servidores, incluindo o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do MP-AM, com o apoio das Polícias Civil do Amazonas (PC-AM) e Militar (PM-AM). As prisões aconteceram nos bairros Alvorada, na Zona Centro-Oeste, e da União e Parque Dez de Novembro, ambos na Zona Centro-Sul de Manaus.
Entre os presos está Luciana Uchoa Cardoso, de 35 anos, conhecida como “Estrela” e “Bibi do Amazonas”, apontada como a chefe do tráfico no bairro Alvorada, na Zona Centro-Oeste da capital. Ela estava sendo monitorada por tornozeleira eletrônica, mas acabou presa no dia 8 de fevereiro deste ano, por estar fora do perímetro permitido determinado pela Justiça.
Estrela” dirigia um carro, modelo HB20, de cor grafite e placas QNH-2971, na avenida Desembargador João Machado (Estrada dos Franceses), no bairro Alvorada 1, quando foi abordada por policiais militares das Rocam. Com ela, os policiais militares apreenderam uma pistola calibre 380 milímetros e mais de R$ 2,5 mil.
Segundo informações da PC-AM), “Estrela” também é suspeita de ordenar execuções de rivais por disputa do tráfico de drogas, no bairro Alvorada. Um vídeo chegou a ser compartilhado nas redes sociais, em que um homem chega a ser agredido a chutes, socos e pauladas pelos “soldados do tráfico”.
Luciana é mulher do narcotraficante Marcos Roberto Miranda da Silva, o “Marcos Pará”, um dos líderes da Facção Criminosa Família do Norte (FDN). Ele foi condenado em 2018 pela morte do delegado da PC-AM Oscar Cardoso, em 2014, e cumpre pena pelo assassinato em um presídio federal na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte (RN).
De acordo com o MP-AM, a operação “Collusione”, palavra italiana que significa conluio (trama – propósito de prejudicar outra pessoa), investiga a participação de diversas pessoas envolvidas em organização criminosa (ORCRIM), com a prática de crimes de lavagem de dinheiro, tráfico de entorpecentes, associação para o tráfico de drogas e falsidades documentais no Estado do Amazonas.
A investigação do Gaeco, que também teve a participação da 84ª Promotoria de Justiça que atua junto à 4ª Vara Especializada em Crimes de Uso e Tráfico de Entorpecentes, teve início após comunicação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) ao MPAM. Na ocasião, foram identificados que determinados pessoas, envolvidas com o tráfico de entorpecentes, enviavam dinheiro de Manaus para a conta corrente de uma pessoa na cidade de Tabatinga (município distante 1.108 quilômetros de Manaus), região da tríplice fronteira (Brasil – Colômbia – Peru).
Conforme MP-AM, uma das principais investigadas, fez uma transferência bancária de R$ 212 mil, para a intermediária, residente em Tabatinga. Os valores consideráveis depositados no período de cinco meses chamaram a atenção.
Após o deferimento judicial, do pedido de quebra de sigilo de dados telefônicos formulado pelo MP-AM, restou demonstrada uma extensa relação de pessoas físicas que comercializavam entorpecentes para a organização criminosa. Com as medidas cautelares, foi possível identificar empresários que se utilizavam de pessoas jurídicas para acobertar a atividade ilícita dos outros investigados, chamados de “Laranjas”.
Um desses empresários forneceu guia de trabalho falsa para que um dos investigados, cumprindo pena no regime semiaberto, obtivesse benefícios penitenciários de forma indevida, como a remissão da pena (abatimento de um dia da pena para cada três dias trabalhados).
O MP-AM apurou ainda que grande quantidade de pessoas físicas e jurídicas envolvidas se valiam de várias pessoas interpostas para movimentar dinheiro e adquirir bens, dificultando a localização dos frutos econômicos do tráfico de entorpecentes.
Presos
Conforme o MP-AM, também foram presos na operação os traficantes Arnaldo Machado de Moura Filho; Américo dos Santos Aguiar Neto; Kellyane Vieira Sombra, e Vânia Uchoa Cardoso (irmã de “Estrela”). Vânia foi presa em uma loja de biquínis na rua Samambaia, no bairro da União. O local servia como ponto de lavagem de dinheiro, segundo apontou o MP.
Luciana Uchoa e Vânia são irmãs do traficante Winchester Uchôa Cardoso, o “Chester”, que foi decapitado na tarde do dia 6 de julho de 2015, após dar entrada no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), situado na BR-174 (Manaus/Boa Vista).
Na época, João Pinto Carioca, o “João Branco”, e José Roberto Fernandes Barbosa, o “Zé Roberto da Compensa”, chefões da Família do Norte (FDN), foram apontados como mandantes da decapitação de “Chester”, que tentava tomar o poder dos líderes da facção criminosa.
O MP-AM aponta, ainda, que o time amador Amazonas F.C. é suspeito de ser patrocinado com dinheiro oriundo do tráfico de drogas. Marcel Cardoso da Silva, presidente do time amador e dono de várias empresas de contabilidades, em que constam na folha de pagamentos pessoas investigadas, também é alvo nas investigações e deve prestar esclarecimentos.
Investigação
De acordo com o subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Jurídicos, Fábio Monteiro, as investigações iniciaram após constatação de que alguns comprovantes do Cadastro de Pessoa Física (CPF) estavam recebendo valores de diversas empresas, inclusive de uma mulher envolvida com organização criminosa.
“Durante os procedimentos, cruzamos os dados e fizemos o desdobramento com a utilização de mecanismos do centro de inteligência do Gaeco. Com isso, passamos a utilizar estruturas do laboratório que já vem combatendo a lavagem de dinheiro, atacando essa prática dos traficantes por meio de empresas”, disse.
O promotor Reinado Nery, coordenador do Gaeco, informou que em face dos indícios encontrados, os promotores de Justiça da instituição propuseram Medida Cautelar Judicial, obtendo o deferimento de busca e apreensão domiciliar e pessoal de 21 alvos (entre pessoas físicas e jurídicas), sequestro de bens de sete investigados, indisponibilidade de bens de seis investigados e prisão temporária de cinco investigados.
Reportagem: Redação do Amazônia sem Fronteiras