Eduardo Monteiro de Paula: “Abandonei Engenharia, fiz faculdade para jornalismo e fiquei na TV por décadas”

Foto: André Cunha
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Quase uma lenda. Assim está definido Eduardo José Cavalcante Monteiro de Paula, o jornalista esportivo com 44 anos de carreira em exercício e consolidados no Amazonas. Natural de Recife, Dudu aos 69 anos está mais ativo do que nunca. Atualmente conduzindo o programa esportivo denominado “Jogo Aberto” na TV Rio Negro (Band Amazonas), ele diz  que ainda quer fazer mais pelo esporte local e que não pensa em “aposentadoria”.

Dudu é jornalista formado pela Ufam, especializado em esporte, é Pós graduado na Universidade Anchieta-SP, além de ser graduado em inglês, francês e espanhol. No globo esportivo, já atuou dentro e fora do país, viajou por toda Europa atuando como tradutor multilíngue. Poliglota, já presidiu a Associação dos Cronistas e Locutores Esportivos do Amazonas (Aclea), e atualmente é diretor de relações internacionais da Associação Brasileira de Cronistas Esportivos (Abrace) e diretor da Associação Internacional da Imprensa Esportiva (AIPS), e por essas entidades, viajou à China, Canadá, Sérvia, Montenegro, Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, entre outros países.

Acompanhe com exclusividade a entrevista de Eduardo Monteiro de Paula ao repórter Marcos Bargas do portal Amazônia sem Fronteiras:

Redação: Como surgiu o interesse e paixão pelo jornalismo esportivo? Foi o handebol que te fez apaixonar pela imprensa esportiva? 

Dudu: “A vinda para a comunicação foi muito por um acaso, o meu irmão mais velho chamado Edgar foi o primeiro atleta do amazonas a participar de uma seleção brasileira. Ele era muito conhecido, paralelo a isso o Phelippe Daou criou um canal de televisão e convidou o meu irmão para apresentar um programa de esporte amador. À época eu fazia o então segundo ano de Engenharia, e ele chegou comigo e disse que eu era muito gaiato e cheio de historinhas e por esse motivo me fez o convite para ir para a televisão, ficamos por dois anos e decidimos fechar o programa, pois meu irmão estava prestes a se formar e iria exercer a função. Foi quando o Dr. Phelippe Daou me contou a seguinte história: ‘Dudu eu não sei se tu vais ser um bom engenheiro, mas eu acho que tu vai ser um bom jornalista’. Eu não pensei duas vezes, abandonei Engenharia, fiz faculdade para jornalismo e fiquei na TV por décadas”.

Redação: Você tem 44 anos de carreira consolidados, já atuou em cobertura jornalística de grandes eventos no Brasil e em outros países, dentre elas qual foi a mais marcante?

Dudu: “Como jornalista esportivo eu viajei por todos os estados do Brasil, sem exceção, alguns eu até repeti. Certo dia num congresso de jornalismo esportivo internacional em Fortaleza (CE), o presidente do conselho era indiano, quando foi fazer sua palestra eles perguntaram se alguém do grupo falava inglês, eu estava bem na segunda fileira de cadeiras e levantei a mão, ali fiz a tradução da palestra inteira. Ao final do evento, aquele quem eu tinha traduzido me fez o convite de viajar  por toda Europa acompanhando-o, pois  precisava  de  alguém para fazer traduções do inglês para o espanhol e do espanhol para o francês. Esse dia para mim foi muito marcante, pois foi ali que eu me tornei jornalista internacional, e nunca mais parei”.

Redação: Qual sua visão sobre a falta de investimento no futebol amazonense, tendo em vista os mais de 10 anos na série D do campeonato brasileiro? 

Dudu: “A coisa é bem mais complexa que se imagina, mas vou resumir. O primeiro impasse que nós tivemos aqui foi o advento da zona franca. Melhorou? Claro que sim, mas a nossa cultura piorou, pois antes disso quem colocava dinheiro no nosso futebol era o comércio local, os maiores incentivadores eram os comerciantes. Hoje em dia não se faz mais isso, pois os donos foram mudando, e a cultura que nos foi imposta, não se identifica com o esporte local, o atual comércio, socialmente, só se preocupa em gerar empregos e nada mais, contudo acaba esquecendo de que também são muito importantes para esse tipo de mercado. Nós ficamos aculturados, á ponto de os clubes acharem que o melhor jogador que nos temos é o que vem de fora, nós temos vários jogadores muito bons na nossa terra, o que falta é oportunidade”.

Redação: O que tá faltando (do ponto de vista de incentivo) para termos de volta o nosso glorioso futebol amazonense das décadas de 80 e 90? 

Dudu: “Nós precisamos ter quantidade de atletas nossos praticando a modalidade para poder tirar a qualidade. A valorização do artista local é que vai levar com certeza à qualificação e aumento de público nos estádios, e aí é um binômio, tem publico? tem patrocínio, porque tendo patrocínio, tem publico pra comprar o que anuncia, é simples assim”.

Redação: Qual sua opinião sobre a reestruturação do jornalismo, revolução dos meios de comunicação e crise na TV? 

Dudu: “A televisão há sete oito anos atrás, ela ocupava mais ou menos 80% da população brasileira. Com advento do celular essa audiência caiu para 150 milhões, porque as pessoas deixaram de assistir TV, você hoje tem as informações na palma da sua mão. E isso tudo é consequência.

Redação: Sua carreira no jornalismo esportivo foi praticamente toda consolidada na Rede Amazônica. Quais são seus projetos agora em sua nova casa de trabalho após um tempo afastado da telinha?

Dudu: “É bom dizer para todo mundo que eu não tenho raiva da Rede Amazônica, até porque tudo quem me proporcionou na vida foi a própria emissora, mas decepção sim, pois não imaginei que os novos donos tivessem uma cadencia diferente, enfim, eu tenho só gratidão, pois lá conquistei e tracei toda minha história. Fiquei um tempo fora da área né? Aí o Ricardo me chama e faz uma proposta que financeiramente não é essas coisas maravilhosas, mas é uma proposta que vem bater direto com aquilo que eu quero, até porque chega um ponto na vida que o dinheiro não é sempre a essência. Bem, como o programa é uma extensão do programa nacional, e como o jogo aberto é dirigido pela Renata Fan, pensei, porque não ter uma Renata Fan? E a Dany é uma profissional de alta qualidade, por isso escolhemos ela. E já vou antecipar a vocês, ela está sendo preparada para conduzir o programa, porque é assim a nível nacional, e é assim que vai ser aqui também. Até porque vai ter um dia que vou precisar de umas folgas né? (risos)”.

Redação: Como você se sente sendo essa ilustre figura do jornalismo esportivo amazonense que é, e servindo de referência para outros colegas da imprensa e também para quem está iniciando nessa área?

Dudu: “Essa é uma questão muito pessoal, quando eu comecei no jornalismo esportivo eu procurei ter uma referência, e a minha referência foi, é e será o meu amigo Arnaldo Santos, eu sempre fui fã e amigo dele, eu dizia, esse cara é minha referência. O conselho que eu dou para quem tá começando é, adquirir uma referência, não copiar, porque todos nós temos a capacidade de criar nossa personalidade, é isso que vai fazer ser o diferencial no mercado de trabalho.

Redação: Como é para você ser natural de Recife e ser presenteado com o reconhecimento do título de Cidadão amazonense? O que isso significa para você?

Dudu: “Tudo! Tudo! Você nem imagina. Minha mãe é pernambucana e ela resolveu ter um filho pernambucano, então, no oitavo mês ela foi pra Recife, eu nasci em Recife, e com trinta dias de vida eu voltei para onde eu estou, e nunca mais voltei. Então, eu só sou pernambucano de registro (risos), porque os meus 69 anos e oito meses, eu sou amazonense! Então, esse diploma é o reconhecimento técnico de que eu sempre fui amazonense. Eu tenho orgulho de pernambucano pela minha mãe, mas eu tenho orgulho mesmo de ser amazonense, e eu sou ‘caboco’ hein? (risos) Eu sou ‘caboco’ da farinha, do peixinho. Eu nem lembro que sou pernambucano, a ponto de quando a pessoa me perguntar: naturalidade? Eu respondo, Amazonas! Então, na verdade a pergunta é pertinente. Eu não sou pernambucano, eu sou amazonense, eu tenho registro pernambucano, mas sou amazonense.

Redação: Já pensa em aposentadoria? O que tem em mente para o futuro quando este dia chegar?

Dudu: “Aposentadoria financeira já aconteceu (risos), mas de trabalho não, ainda não tenho nenhuma previsão para acabar, achei que tinha acabado quando saí da TV Amazonas porque eu estava tão habituado no meu trabalho que, eu juro por Deus, na minha cabeça eu achei que eu iria morrer na frente da tela lá um dia, apresentando esporte ou em um noticiário. Quis o destino que eu não fizesse isso, então estou aqui para continuar o meu trabalho. Todos os meus filhos já andam com as próprias pernas, graças a deus, então eu só tenho que me conduzir ne? (risos) São de três mães diferentes, quem sabe eu não escolha uma parceira para passar esses últimos dias comigo ao meu lado (risos).

Redação: Há algum sonho ainda não realizado na carreira?

 Dudu: “Sim! O meu sonho é realizar eventos de nível internacional no estado do Amazonas. Já comecei um projeto de fazer corridas na natureza, todas feitas no interior, inclusive logística, e também é tudo realizado por lá, para o atleta conhecer a natureza e fazer uma corrida de aventura. O meu maior sonho é que isso possa crescer e amanhã eu fazer corridas internacionais aqui, trazendo gente do mundo inteiro para correr dentro da selva amazônica, para que eles conheçam nossa terra e saber porque que nós temos que preservá-la, porque que ela tem essa importância. Lógico, com um projeto bem segmentado para que a gente possa ganhar dinheiro com isso, estamos trabalhando, mas, que possamos proporcionar as pessoas a possibilidade de saber que nós dependemos da selva interna. Eu sonho um dia conseguir isso!

Reportagem: Marcos Bargas (Amazônia sem Fronteiras)

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