Primeira fase do projeto “Parentas que Fazem”, uma parceria da Fundação Amazônia Sustentável e Google.org, foi finalizado e contou com desfile de renomado estilista indígena, Maurício Duarte
O projeto “Parentas que Fazem”, que nasceu com o propósito de atuar no fortalecimento das organizações de mulheres indígenas no estado do Amazonas que atuam com sociobioeconomia, chegou ao fim da primeira fase, com 374 mulheres capacitadas. O projeto apoiou cinco associações ao longo do último ano. O evento de finalização do primeiro ciclo contou com uma roda de conversa e um desfile especial da coleção “Muiraquitã”, do renomado estilista amazonense do povo Kaixana, Maurício Duarte.
O evento foi realizado na sede da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), na última sexta-feira, 13/12, reunindo mais de 150 pessoas, entre convidados, parceiros, modelos indígenas e as artesãs que fazem parte da iniciativa.
A coleção “Muiraquitã”, lançada no New York Fashion Week, em setembro, é um dos eventos mais prestigiados da moda global, foi apresentada no encerramento do projeto Parentas que Fazem. Algumas peças da coleção foram criadas por Maurício Duarte, em parceria com as associações que compõem o projeto.
A FAS realiza essa iniciativa há mais de 1 ano, com o apoio do Google.org, instituição filantrópica do Google, e em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Rede de Mulheres Indígenas do Amazonas (Makira-E’ta). As cinco associações do projeto passaram por um edital com concorrentes de diversos municípios do Estado.
Elas são: Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro – Numiã Kura (AMARN), Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM), Associação de Mulheres Indígenas da Região do Alto Rio Negro (AMIARN), Associação dos Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoeira (ASSAI) e Associação das Mulheres Indígenas do Médio Solimões e Afluentes (AMIMSA).
“Trabalhamos com 47 artesãs na associação ASSAI, que fica em São Gabriel da Cachoeira. Com o projeto Parentas que Fazem promovemos uma reforma em nossa sede, participamos de feiras, promovemos oficinas sobre gestão financeira, oficina sobre o manejo do tucum, oficina de tingimento natural do tucum, compra de matéria prima, entre outras trocas de saberes. O recurso do projeto beneficiou muito nossas artesãs”, comentou Maria Nazaré, que é presidente da ASSAI.
Ao longo do primeiro ciclo do projeto, foram realizadas cinco oficinas de formação em empreendedorismo. Além disso, 118 organizações foram mapeadas na Amazônia. O objetivo foi identificar potenciais atividades que possam ser alvos de investimentos prioritários em sociobioeconomia. A iniciativa da FAS contou com a colaboração de diversos grupos de mulheres indígenas da região amazônica.
“A gente tem aqui uma riqueza de história, porque cada peça confeccionada por essas mulheres, carrega muita alegria ou muita tristeza. Porque a gente molha o solo de qualquer jeito, com tristeza e com alegria. Mas a gente não desiste”, comentou a coordenadora da Agenda Indígena da FAS, Rosa dos Anjos, do povo Mura, que é responsável pelo projeto.
Marciely Ayap Tupari, coordenadora-secretária da Coiab, destaca a importância da iniciativa como forma de valorização e preservação de saberes ancestrais. “As mulheres indígenas são as grandes guardiãs dos conhecimentos tradicionais. Quando elas tecem uma cesta ou fazem um artesanato, elas estão garantindo que aquele conhecimento seja transmitido para as novas gerações, mantendo vivas as culturas de seus povos”, afirmou.
“Para nós, mulheres indígenas da Amazônia brasileira, é muito importante participar de iniciativas que empoderam nossas parentas, levando formação e desenvolvimento de seus negócios. Isso nos fortalece enquanto movimento, nossa cultura e nosso trabalho são valorizados, movimentando a economia indígena”, comentou a vice-coordenadora tesoureira da Coiab, Dineva Kayabi.
As peças criadas pelas artesãs foram tecidas à mão, utilizando fibras de tucum, buriti, escamas de pirarucu, sementes de açaí e outros elementos da natureza. Além do desfile, a FAS promoveu a Roda de Conversa “Parentas que Fazem – Kuiã ita kirîbawa” para debater a importância do fortalecimento da cadeia do artesanato de mulheres indígenas.
“Ver as artesãs assistindo o desfile, vendo suas peças, me fortalece muito. Espero que a gente possa cada vez mais partilhar essas histórias. Quando a gente consegue impulsionar essas vozes que constroem esse trabalho há muito tempo, a gente consegue fortalecer cada vez mais essas mulheres. Eu fico muito feliz por ser uma ponte para o nosso trabalho e que esse trabalho impacte mais pessoas. Não me vejo fazendo outra coisa. Se eu não me emocionar nesse processo, nada disso faz sentido para mim”, declarou Maurício Duarte.
Em parceria com a FAS, Maurício Duarte promoveu uma troca de saberes com as artesãs indígenas em seus territórios, como a realização da oficina de teçume de arumã para as artesãs da AMIARN, na aldeia Yabi, do povo Baré, em São Gabriel da Cachoeira (distante 852 quilômetros de Manaus). Ele também visitou a sede da AMARN, em Manaus, com a realização de uma oficina sobre o processo de grafismo e tecelagem com a fibra de tucum. Já no município de Tefé (a 523 quilômetros de Manaus), o estilista participou de atividades com as associadas da AMIMSA.
Fonte: UP comunicação
Foto: divulgação/ UP comunicação