Março de 1938, apenas três meses antes do inicio da Copa do Mundo da França, as tropas nazistas de Adolf Hitler invadiram a Áustria para anexar o país à Alemanha. Em quatro semanas, transformaram a jovem república parlamentarista em mais uma província do implacável Terceiro Reich. Entre as muitas intenções dessa investida, Hitler tinha uma futebolística e curiosa vontade de emular Benito Mussolini, o ditador italiano e seu aliado na Segunda Guerra Mundial, que, em 1934 conquistou o título da Copa.
Imitando Mussolini, Hitler decidiu reforçar o selecionado alemão com o melhor que havia na Europa na década, no caso os austríacos do chamado Wunderteam. Assim, invadiu e anexou a Áustria, pensando ter solucionado a formação da equipe.
Maior jogador austríaco da história e um dos melhores de todos os tempos, Mathias Sindelar, o “Paperman” (homem de papel) ou “Papierne” (bailarino de papel), era leve e rápido com a bola nos pés, parecia voar em campo, exibindo movimentos ágeis e elegantes. Ao contrário de outros de seus companheiros, ele se recusou a defender a seleção da Alemanha.
De humilde família judia de origem tcheca, Mathias Sindelar nasceu em 1903 na pequena Kozlan, antiga Morávia, mas logo se mudou para Viena, no império austro-húngaro. Habilidoso, logo chamou a atenção do clube Hertha, e não demorou a defender as cores do mais bem cotado FK Áustria Viena.
O regime nazista tinha um grupo de especialistas observando a seleção da Áustria desde a Copa de 1934, quando derrotou a França e a Hungria. Setenta e duas horas após a invasão da Áustria, Hitler já havia solicitado que oito dos craques do Wunderteam se colocassem às ordens do treinador Sepp Herberger, a começar por Sindelar.
Hitler resolveu celebrar a anexação da Áustria com uma disputa entre a Alemanha nazista e o Wunderteam, que faria assim seu último jogo como tal – a partida foi marcada para menos de um mês após a invasão e dois meses antes da Copa de 1938, em 3 de abril. Os austríacos venceram por 2 a 0, com um gol de Sindelar, comemorando frente ao palco das autoridades nazistas. Sindelar não sabia, mas aquele seria seu último jogo oficial.
Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do nazista, disse a Sindelar que a ofensa seria esquecida se ele defendesse a Alemanha na Copa da França e o time germânico conquistasse o primeiro lugar. Imediatamente, o austríaco se recusou a jogar para os invasores. No dia 22 de janeiro de 1939, Sindelar e sua esposa foram encontrados mortos, supostamente sufocados por um vazamento de gás. O “Pelé do Danúbio”, como também era conhecido, morreu aos 35 anos.
Reportagem: Willian D’Ângelo