“O Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, cogita deixar o partido por se sentir desconfortável com algumas situações” afirmaram os advogados Admar Gonzaga (ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral) que atua como conselheiro do Presidente, e Karina Kufa, que cuida da parte dos direitos eleitorais.
Em reunião na tarde da última quarta-feira (09), Bolsonaro se reuniu com um grupo de parlamentares considerados “Rebeldes”, defensores do “racha” na sigla, e com seus dois advogados. O principal assunto foi a solução ou a criação de uma estratégia para conseguir a desfiliação do Presidente e dos parlamentares sem que o partido possa reivindicar o mandato dos deputados.
No fim da reunião, em um rápido bate-papo com os Jornalistas, Gonzaga falou sobre os motivos pelos quais o Presidente deixaria o partido, e se o caso das candidaturas-laranjas de mulheres em Minas Gerais e Pernambuco nas últimas eleições, envolvendo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o presidente do partido, deputado Luciano Bivar, poderia servir para a justa causa, o advogado disse não querer falar de “laranjal ou qualquer outro suco”, mas que o problema é “responsabilidade com dinheiro público”.
A advogada de Bolsonaro dá mais pistas da estratégia que o presidente deve adotar para sair do PSL, dentro da alegada justa causa.
“São diversos desgastes. O presidente sempre levantou a bandeira da ética e da transparência e exigia isso sempre dos dirigentes do partido. Mas foi muito difícil entrar em um acordo quando o partido não está disposto a abrir uma votação democrática, seja para alteração de estatuto, seja para eleição dos dirigentes”, afirmou.
Karina disse ainda que “ficou insustentável” a situação no PSL.
“Não dá para o presidente levar um encargo tão grande de um partido que acaba não permitindo que haja essa pluralidade. A gente tem diversos deputados insatisfeitos porque não tem informação nenhuma e acesso às contas e é isso que foi pleiteado”, disse.
Segundo a advogada, o partido “deixou de ser transparente” e o próprio presidente já admitiu que pode deixá-lo, mas as “estratégias” para isso acontecer não vão ser divulgadas agora. Ela afirmou que o partido “macula” a imagem do presidente e dos parlamentares.
O RACHA ENTRE BOLSONARO E BIVAR
Segunda maior bancada da Câmara, o PSL viu crescer as disputas internas nos últimos meses e se dividiu entre um grupo mais fiel a Bolsonaro e os demais, alinhados com Bivar.
A disputa chegou ao auge na última terça-feira (08), quando Bolsonaro foi gravado falando a um apoiador, pré-candidato a vereador pelo partido em Recife, para “esquecer o PSL”, que Bivar estava “queimado” e que o vídeo gravado pelo rapaz também queimaria seu filme.
A fala levou à reação de Bivar e de outros parlamentares, como o líder do partido na Câmara, Delegado Valdir (PSL-GO) e a crise reascendeu, levando um grupo de parlamentares a uma reunião de última hora com o presidente.
Um dos rebeldes do partido, o deputado Bibo Nunes (RS), saiu do encontro dizendo que não poderia dizer qual era a solução, mas que seria “a melhor para o país”.
“Nós fizemos um pacto. Eu não posso falar nada. Da reunião, vai sair o melhor para o Brasil, e o presidente Bolsonaro tem o apoio de todos que têm o presidente Bolsonaro no coração”, disse.
De acordo com Admar Gonzaga, uma saída do presidente levaria com ele metade da bancada do partido na Câmara. O problema reside na lei da fidelidade partidária.
Se trocarem de partido ou ficarem sem partido, o PSL pode exigir o mandato dos deputados, consequência que não existe no caso do presidente, a menos que consigam provar uma justa causa. O que aponta para as acusações de falta de ética e transparência.
Reportagem: Jardel Pereira / Portal Amazônia sem Fronteiras