Estava em jogo a manutenção da invencibilidade jogando contra equipes não britânicas em casa (para os ingleses) e uma vitória épica no maior templo do futebol mundial (para os húngaros) no dia 25 de novembro de 1953. A partir deste domingo (1º), o Portal Amazônia sem Fronteiras volta com a coluna Túnel do Tempo com o jornalista Willian D’Ângelo.
Se existisse uma grande seleção que conquistasse títulos e fizesse história, os ingleses faziam questão de chamá-la para uma partida amistosa no imponente estádio de Wembley para um tira-teima. Lá, a tal grande seleção perdia o jogo e os ingleses continuavam com a soberba de “melhores do mundo”. Isso até chegar o dia do encontro contra a Hungria.
Os ingleses fizeram um convite para um amistoso contra a seleção húngara que encantava a todos com um futebol revolucionário e envolvente que havia tido seu grande momento com o ouro olímpico em 1952. Para a Inglaterra, aquilo não era nada. Era preciso passar pelo teste definitivo em Wembley para ver se os magiares eram mesmo bons. No dia da partida, 100 mil pessoas lotaram o santuário da bola para assistir mais uma vitória inglesa, como previa a maioria. Porém, em campo, o que todos viram foi um baile de jogadores altamente técnicos e totalmente a frente de seus adversários, de seu tempo e da própria e velha Inglaterra. A Hungria de Puskás, Kocsis, Budai, Czibor e Hidegkuti aplicou sonoros 6 a 3 nos “senhores do futebol” e não só venceu o mais importante amistoso de todos os tempos como estabeleceu feitos notáveis: ser a primeira seleção fora da Grã-Bretanha a vencer a Inglaterra em Wembley, mostrar a todos um novo e diferente esquema de jogo (4-2-4) e provar que o ouro olímpico de 1952 não havia sido mera coincidência.
Tanta qualidade fez com que os húngaros conquistassem o ouro olímpico nos Jogos de Helsinque, em 1952, com cinco vitórias em cinco jogos, 20 gols marcados e apenas dois sofridos. A fama dos “Mágicos Magiares” cresceu de um jeito que até mesmo os isolados ingleses, sempre avessos ao que acontecia fora de sua ilha, souberam das vitórias e façanhas dos húngaros. Com isso, a federação de futebol inglesa convidou a seleção magiar para uma partida amistosa em 1953, mais precisamente no dia 25 de novembro, em Wembley. Seria o confronto entre “a melhor seleção de todas” (como os ingleses modestamente se proclamavam) contra a “melhor seleção do momento”. O duelo gerou muita expectativa na imprensa britânica que tratou de apelidar a partida de “The Match of the Century” (O jogo do século).
O canto do cisne da mágica seleção húngara foi aquela goleada em Wembley. Mas os magiares ainda teriam mais momentos de brilho, a começar pela nova goleada pra cima da Inglaterra, em Budapeste, no Nepstadion tomado por 92 mil pessoas: 7 a 1, com dois gols de Puskás, dois de Kocsis, um de Hidegkuti, um de Tóth e um de Lantos. Após mais um resultado marcante, os magiares viajaram até a Suíça em busca de um praticamente ganho título mundial. Porém, mesmo depois de atropelar Coreia do Sul (9 a 0), Alemanha (8 a 3), Brasil (4 a 2) e Uruguai (4 a 2), os húngaros caíram diante da Alemanha na decisão de Berna e perderam por 3 a 2, de virada. A derrota simbolizou não só a perda da Copa do Mundo, mas também o fim de uma era de ouro do futebol húngaro, que viveu momentos conturbados por causa de guerras e jamais voltou a ser o que era. Mesmo assim, pouquíssimas seleções conseguiram os feitos daquele esquadrão, muito menos enfiar seis gols nos senhores do futebol em pleno templo de Wembley. Uma façanha eterna. Como foram aqueles 6 a 3 de 25 de novembro de 1953.
Reportagem: Willian D’Ângelo