‘Você mudou o mundo’, diz ativista durante homenagem a George Floyd nos EUA

    Foto: Divulgação
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    Centenas de pessoas se despediram nesta quinta-feira (4) de George Floyd, um cidadão negro, cuja morte por um policial branco que o imobilizou pressionando o joelho sobre seu pescoço desencadeou um movimento de protesto que não se via há décadas nos Estados Unidos, em uma cerimônia de detalhes intimistas, mas com forte tom político.

    Manifestações, no geral pacíficas e silenciosas, voltaram a ocorrer nesta quinta em todo o país, pedindo justiça e o fim das discriminações raciais.

    Milhares de pessoas de origens diferentes protestaram nas ruas de Nova York, além de Washington, Seattle e Los Angeles, estas três últimas onde o toque de recolher foi suspenso.

    A indignação continuou se espalhando para fora dos Estados Unidos. Em Viena, uma marcha reuniu cerca de 50 mil pessoas, segundo a polícia, uma das mobilizações com maior assistência nos últimos anos na capital austríaca.

    O reverendo e veterano ativista pelos direitos civis Al Sharpton foi encarregado do discurso fúnebre. Nela, afirmou que Floyd “não morreu de uma doença comum, mas sim do mau funcionamento da justiça criminal dos Estados Unidos”.

    “O que aconteceu com Floyd acontece todos os dias neste país”, ressaltou Sharpton. “É momento de nos colocarmos de pé e em nome de George, dizermos: tire esse joelho do meu pescoço”, acrescentou, sob aplausos.

    “Você mudou o mundo, George”, disse o pastor batista depois da exibição de imagens da morte de Floyd, que desataram uma indignação inédita desde o assassinato do ativista negro Martin Luther King Jr. em 1968.

    “Vamos continuar até mudarmos todo o sistema de justiça”, afirmou Sharpton.

    A cerimônia, acompanhada de música e fortemente marcada pelas restrições para conter a disseminação da covid-19, misturou testemunhos íntimos da família, com a presença de personalidades como o reverendo Jesse Jackson, a senadora por Minnesota, Amy Klobuchar, e o prefeito de Minneapolis, Jacob Frey.

    O caixão dourado com o corpo de Floyd foi colocado à frente de uma projeção que mostra um mural pintado no local onde ele morreu e onde agora foi montado um memorial improvisado com flores e mensagens.

    O advogado da família, Ben Crump, prometeu “justiça” no caso, no qual são processados quatro policiais.

    A poderosa associação de defesa dos direitos civis ACLU e outras organizações apresentaram uma denúncia judicial contra o presidente Donald Trump, bem como contra os secretários da Justiça e da Defesa pela ação da polícia contra a manifestação pacífica em frente à Casa Branca na segunda-feira.

    Crump afirmou que Floyd morreu pela “pandemia do racismo e da discriminação”, depois que a necropsia confirmou morte por asfixia e revelou também que tinha se infectado com o novo coronavírus.

    A maioria dos presentes usava máscaras, alguns com a frase “Não consigo respirar”, as últimas palavras proferidas por Floyd quando o policial branco Derek Chauvin o imobilizou pressionando o joelho contra seu pescoço por 8 minutos e 46 segundos.

    Em um momento da cerimônia, os presentes fizeram silêncio durante o mesmo intervalo de tempo e quando o corpo de Floyd chegou ao local, o chefe de polícia de Minneapolis, Medaria Arradondo, apoiou um dos joelhos no chão, em sinal de respeito.

    Cerimônia em Nova York

    Em Nova York foi celebrada uma cerimônia simultânea, à qual assistiu um de seus irmãos, Terrence.

    Os presentes exibiam cartazes com mensagens como “O silêncio dos brancos é violência” e “Façamos dos Estados Unidos algo não vergonhoso outra vez”.

    A onda de protestos que agita há dez dias o país se intensificou na segunda-feira, quando o presidente Donald Trump ameaçou mobilizar o Exército para restaurar a ordem, depois que protestos pacíficos durante o dia terminaram em distúrbios à noite.

    Os distúrbios forçaram muitas cidades a declarar toque de recolher e 10 mil pessoas foram presas em todo país, de acordo com a imprensa.

    Na quarta-feira, promotores encarregados do caso do homicídio de Floyd endureceram as acusações contra Chauvin, que, na semana passada, foi acusado de homicídio culposo.

    Agora, ele também será processado por homicídio sem premeditação, uma acusação que se soma às já existentes e acarreta penas mais severas.

    Se condenado, ele pode passar até 40 anos na prisão, embora nos Estados Unidos haja poucos casos de condenação de policiais.

    Além disso, o promotor acusará os outros três policiais que estavam no local – Tou Thao (34 anos), J. Alexander Kueng (26) e Thomas Lane (37), já detidos – por ajudarem e instigarem o assassinato.

    Em Minneapolis, a situação se acalmou depois dos protestos do último final de semana, mas o prefeito da cidade, Jacob Frey, estimou o custo dos danos em US$ 55 milhões.

    Trump sob pressão

    Apesar de Trump condenar a morte de Floyd, o presidente adotou um tom severo para se referir aos manifestantes, afirmando que havia “pessoas más”.

    A tensão aumentou em seu próprio gabinete na quarta-feira, depois que secretário da Defesa, Mark Esper, opôs-se ao uso de uma lei que permitiria que as forças militares fossem às ruas.

    Centenas de soldados da Guarda Nacional, um corpo de reservistas, já foram enviados para ajudar a polícia no controle dos protestos, mas Trump propõe apelar para os militares da ativa.

    Esper se distanciou desta proposta e disse que a opção militar deve ser usada como “um último recurso e apenas nas situações mais urgentes e sérias”.

    Uma senadora republicana do Alasca, Lisa Murkowski, decepcionada com a atitude do presidente, disse a jornalistas que estava “duvidando” se o apoiará nas eleições de novembro.

    Reportagem: Redação Amazônia sem Fronteiras

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